Casa do Saber
A uma hora de barco de Manaus e à margem esquerda do Rio Negro, a Comunidade Indígena de Cipiá abriga seis etnias e seis línguas diferentes. A tribo é formada por cinquenta pessoas, quinze famílias, que hoje vivem exclusivamente do turismo e da venda de artesanato. Já dispondo de uma pequena estrutura para receber turistas, buscavam ampliar sua infraestrutura para trazer mais renda à comunidade.
Através da iniciativa estruturada que recebeu o nome de Amazone-se Cipiá, projeto da organização sem fins lucrativos Base Colaborativa, os escritórios Studio MEMM, Marcela Wandenkolk Arquitetura e Interiores e Studio ZZ se reuniram com a Comunidade Indígena CIPIÁ para iniciar o desenvolvimento de dois novos projetos: o Núcleo Cultural e a Hospedaria na Comunidade Indígena CIPIÁ.
Fruto de muitos diálogos com lideranças locais, os arquitetos chegaram ao novo conceito de arquitetura sustentável do espaço, que reunirá indígenas, turistas e pesquisadores para troca de experiências, resgate da história da comunidade e celebração da cultura Desana.
O uso de matéria prima e mão de obra locais, além do cuidado em proporcionar conforto térmico e iluminação natural, guiaram todo o projeto. A implantação foi discutida com a comunidade, atingindo uma proposta que não causasse impacto na vegetação nativa. Durante as conversas com a comunidade, além do desejo por uma estrutura para geração de renda, os arquitetos perceberam que havia outras necessidades básicas que não eram supridas, como a falta de uma solução estruturada para captação de água e a gestão de dejetos. A partir deste momento, o projeto se dividiu em três pilares: Cultura Viva, Renda e Água.
O primeiro projeto foi desenvolvido para um espaço chamado pelos membros da comunidade de “Casa do Saber”. Atendendo às solicitações do cacique, foi proposta uma arquitetura que espelha a maior construção existente na tribo. As aberturas na cobertura foram pensadas para funcionarem de forma manual, através do acionamento de cordas que ajustam sua inclinação, controlando assim a luz e vento que passam por ali e tornando o projeto adaptável às mais diversas condições. Esse edifício tem o propósito de manter o interesse dos mais jovens, que frequentam escolas com o currículo padrão nacional de Ensino, pela cultura originária da comunidade. A Casa contará também com biblioteca, museu de artefatos e ambientes para que antropólogos possam absorver e documentar a cultura Cipiá.
Os módulos de hospedagem são autossuficientes e foram implantados de forma que não se misturassem às habitações da comunidade, mais próximo das margens e da estrutura para receber turistas. São módulos que podem ser facilmente replicados pela comunidade, elevados do solo. As formas de tratar os resíduos gerados pelos visitantes também foram discutidas com a comunidade e propostas em projeto.
O maior desafio, no entanto, é encontrar soluções com o menor impacto possível para sanar os problemas de abastecimento de água e tratamento de esgoto da comunidade, levando em conta as limitações da infraestrutura existente. A equipe, neste momento, busca a colaboração de profissionais de outras áreas para alinhar propostas.
O estreito relacionamento com a população local foi essencial para o desenvolvimento do projeto, aprovado no final de 2020. A iniciativa agora está em fase de captação de recursos para execução das obras. Para saber mais, acesse o Instagram do projeto @amazone.se.
- Manaus - AMProjeto em andamento.
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